A Associação Nacional de Pisos e Revestimentos de Alto Desempenho (Anapre) divide o mercado de piso industrial de concreto em informal e formal. Constituído por pequenos construtores que executam o produto sem projeto técnico, o segmento informal é bastante representativo e atende áreas onde se desenvolvem atividades com menores exigências sobre o item. Já o formal responde pela fatia de mercado em que o piso é essencial para a operação, inclusive com participação importante no custo total da obra. “O empreendedor não pode se dar ao luxo de dispensar o projeto técnico”, alerta o engenheiro Gelmo Chiari Costa, diretor técnico de concreto da entidade.
Além disso, é fundamental realizar uma especificação precisa do concreto utilizado no produto, para evitar fissuras e trincas que podem comprometer a operação da indústria ou do galpão logístico
Projeto detalhado, execução correta e concreto preparado a partir de critérios de controle específicos são determinantes para a qualidade dos pisos industriais. O material está presente em instalações industriais e galpões de centros logísticos, nas lojas de varejo, atacado e nos chamados atacarejos, além de estacionamentos, subsolos e postos de gasolina.
Entre suas vantagens está a baixa probabilidade de surgirem patologias – uma vez que eventuais problemas podem ser mitigados já no projeto. No Brasil, existem projetistas e empresas executoras capacitados, que seguem o padrão do que é feito de melhor no exterior.
“O concreto dos pisos industriais é mais sensível à variação do que os demais segmentos de estruturas de concreto, daí a necessidade de observação de diversos itens”, ensina Gasparetto. Além da resistência à compressão e tração na flexão, é preciso considerar o consumo mínimo de cimento; teor de argamassa; exsudação; retração específica (relacionada, por exemplo, com o consumo de água); tempo de pega; temperatura do cimento; e resistência à abrasão, entre outros fatores.
É importante alertar sobre as tolerâncias nas variações de abatimento. Um piso industrial precisa ter uma tolerância mais rigorosa do que prescreve a norma. Usualmente, a variação do abatimento do concreto para um piso industrial deverá ser inferior a ±10 mm, sob o risco de originar ‘juntas frias’ entre caminhões betoneiras, prejudicando o acabamento e os índices de planicidade.
Os aditivos misturados ao concreto têm a função de reduzir o volume de água necessária para a obtenção de determinada trabalhabilidade. “Este fato nos remete a uma redução do consumo de cimento (mantendo-se a relação água/cimento), favorecendo a retração específica. A trabalhabilidade desejada pode estar relacionada com questões como o bombeamento do concreto em obras de difícil acesso logístico do caminhão betoneira e consequente lançamento do concreto”, diz Gasparetto.
A Votorantim Cimentos indica os cimentos CP II F40, CP II F32, CP II Z32 ou CP IV 32 para o concreto de pisos industriais. E a Engemix – negócio de concreto da Votorantim Cimentos – produz o Pisomix, que assegura maior resistência ao trânsito intenso, aos possíveis agentes abrasivos, baixos níveis de fissuração e tempo de pega adequado para aplicação e acabamento, conferindo maior durabilidade ao piso.
As juntas de movimentação que delimitam as placas de concreto são um aspecto crítico do piso. É necessário projetar e executar as juntas de maneira bem dimensionada para obter desempenho satisfatório ao longo da vida útil do piso e evitar patologias. “Falhas na execução podem causar fissuras e/ou quebras nos cantos das juntas (esborcinamento), obrigando muitas vezes a paralisação das atividades da empresa”, avisa Costa. Além disso, placas mal niveladas geram desgaste e embuchamento na parte mecânica dos equipamentos, como as empilhadeiras, elevando o custo de manutenção.
“Mas, hoje, temos um grau de sofisticação que permite o controle automatizado do nivelamento e planicidade desses pisos, principalmente em galpões logísticos”, comenta o diretor da Anapre.
Segundo Gasparetto, as patologias normalmente são fissuras e trincas, com origens diversas. As causas mais comuns são: concreto com elevada retração específica; inadequação no posicionamento de armaduras de combate à retração e barras de transferência; e, ainda, questões relacionadas com o preparo do solo e camadas inferiores dos pisos de concreto. Para cada tipo de fissura existe um procedimento corretivo ideal. A identificação deve ser feita por profissional que vai especificar o tratamento adequado e definitivo para a patologia.
A formalização dos processos é o melhor e único caminho para a prevenção. “Estamos falando a partir de uma visão sistêmica, que requer uma série de procedimentos”, afirma Gasparetto. Em primeiro lugar, é preciso planejar a obra, obtendo dados de toda natureza, como os de solos, cargas operacionais, condições executivas e materiais locais. Em seguida, vem a elaboração de projeto executivo com indicação de detalhes específicos para 100% da obra e informações de todo tipo de controle e suas tolerâncias executivas. As compras de materiais e a seleção de empresa executora devem ser feitas por equipe capacitada, para que se tenha a real diferença entre preço e desempenho dos materiais. E, finalmente, é fundamental monitorar a execução, com base nos parâmetros de controle do projeto.
O sistema de piso industrial com junta reforçada com alta dosagem de fibras metálicas é amplamente difundido e utilizado na Europa, nos Estados Unidos e na Austrália. No Brasil, a primeira obra a lançar mão dessa alternativa para pisos industriais foi a fábrica da montadora Shineray Motos, que está sendo construída pela Pernambuco Construtora no complexo industrial portuário de Suape (PE).
Um dos atrativos do sistema é a possibilidade de reduzir em até 70% a quantidade de juntas de construção. Essa característica, típica desse tipo de piso industrial, agiliza a velocidade do serviço, já que a utilização de fibras metálicas e de grandes painéis de placas delimitadas pelas juntas blindadas permite a execução de até 3 mil m² de piso por dia. Por se tratar de um piso altamente reforçado com fibra metálica, permite a conformação de painéis de grandes dimensões, além de eliminar a necessidade de execução de lábios poliméricos e, consequentemente, reduzir os custos envolvidos com essa solução.
Apesar das suas vantagens, no entanto, alguns clientes ainda resistem ao uso de fibras metálicas como reforço do piso industrial. A justificativa é o impacto no aspecto visual, já que algumas fibras podem aparecer na superfície do piso (situação bastante rara). Tecnicamente, cabe ressaltar, o sistema não apresenta nenhuma contraindicação. Para a execução de pisos simples com baixa tonelagem (inferior a 2 t/m²) e com muitas interferências de pit (fosso para máquinas), porém, os custos do investimentos podem não ser tão atrativos.
Fotos: divulgação Twintec
Figura 1 – Sistema de piso industrial com junta blindada é ofertado como turn key
Indicações
Indicado para galpões logísticos e frigorificados, centros de distribuição de supermercados, pisos estaqueados (apoiados sobre estacas), fábricas de vidros e de automóveis e portos, dentre outros usos, o sistema também elimina completamente as juntas. Cabe lembrar que grande parte das intervenções de manutenção em pisos acontece devido a problemas nas juntas. As fibras metálicas usadas também conferem grande reforço estrutural ao piso.
Componentes
O sistema de pisos industriais com juntas blindadas é composto por:
– lona plástica de 200 micras, que serve como camada de estanqueidade entre a terraplanagem e o piso;
– espuma, para proteção de pilares;
– fibras de aço com resistências de 1.050 MPa, utilizada como reforço do concreto no piso industrial;
– agregado mineral cimentício, que eleva a resistência ao afloramento das fibras;
– juntas blindadas, que proporcionam melhor transferência de carga, além de proteger as bordas das juntas.
Fotos: divulgação Twintec
Figura 2 – Juntas são assentadas e depois soldadas
O dimensionamento do sistema deve considerar os dados contidos nas plantas arquitetônicas e nas sondagens, as cargas pontuais que serão aplicadas no piso, o layout dos racks (prateleiras) e das bases e os equipamentos que irão trafegar sobre a superfície.
O sistema confere produtividade média estimada de 1,5 mil a 3 mil m²/dia. Sua execução envolve 12 operários: um encarregado, um na mistura da fibra, dois na execução das juntas metálicas, um operador de laser, um operador de spreader, quatro pedreiros e dois serventes.
A responsabilidade por um bom piso industrial é divida em três agentes: o projetista, que deve elaborar o projeto, especificar o traço de concreto, escolher os materiais e determinar índices de planicidade e nivelamento, a empresa de execução, que vai posicionar o material, lançar o concreto, cuidar do acabamento, cortar as juntas e preenchê-las; e a construtora que vai contratar o projeto e o serviço de sondagem, realizar a compactação da sub- -base e comprar os materiais para a execução do pavimento.
Cabe ao projetista determinar não só as características do piso industrial como também as prerrogativas dos trabalhos do executor e da construtora. “Inicialmente, o projetista pega todos os dados do cliente, da sondagem e de alguns ensaios básicos que são feitos e os avalia. Caso o solo esteja em bom estado, ele parte para a etapa seguinte, mas se não estiver tem que recomendar melhoria por meio de estaqueamento ou outro processo similar. Feito isso, a próxima fase de trabalho é avaliar a qualidade do concreto, as cargas que esse piso vai suportar, o pé-direito do galpão e, com base nesses dados, dimensionar o pavimento com o melhor custo–benefício para o cliente”, detalha o engenheiro Antonio Fernandes, diretor técnico da Fernandes Engenharia Piso Pronto Industrial.
As placas de concreto armado para piso com emprego de tela dupla podem apresentar dimensões de até 12 m de largura por 12 m de comprimento, respeitando a espessura mínima de 13 cm. Para dimensões maiores é necessário o aumento da bitola da tela superior. De acordo com a empresa, a taxa de armadura (bitola das telas) é estabelecida em função das solicitações devidas às cargas atuantes.
Os materiais utilizados na execução do piso são os seguintes: brita, empregada como lastro; manta de polietileno (lona preta), empregada sobre a brita; espaçadores plásticos; tela de aço eletrossoldada; espaçadores metálicos treliçados; barras de transferência lisas; barras de ligação; poliestireno expandido (EPS), utilizado nos encontros das placas de piso com paredes e pilares para permitir a movimentação por efeito higrotérmico; agentes de cura ou de proteção para cura; eventuais endurecedores e selantes para juntas.
O sistema construtivo para pisos industriais de alta resistência engloba as seguintes etapas:
– Projeto
– Preparação do subleito
– Preparação da sub-base
– Camada de deslizamento
– Armaduras
– Concreto: lançamento, espalhamento e adensamento
– Concreto: nivelamento e acabamento superficial
– Concreto: planicidade e nivelamento
– Concreto: cura
– Juntas
– Controle tecnológico
O projeto engloba estudos geotécnicos, como sondagem e ensaios de solos, análise das condições de carregamentos estático e dinâmico, concepção arquitetônica, estudos de layout e dos tipos de equipamentos rolantes sobre o piso.
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